domingo, 21 de novembro de 2010

Bença - Espetáculo do Bando de Teatro Olodum

BENÇA

Valter da Mata

Bença - foto promocional

"Esse chão aqui tem dono, chama por Deus e vombora”. São com essas palavras, na voz de Arlete Dias, que tem início Bença* , o novo espetáculo do Bando de Teatro Olodum, em cartaz em curtíssima temporada até o dia 28 de novembro de 2010.
Quem adentrar o Teatro Vila Velha atrás do riso fácil, cacos e improvisações, certamente sairá decepcionado. Longe do ritmo nervoso de seus espetáculos mais famosos como Cabaré da RRRRRRaça ou Ó Paí Ó, Bença vem juntar-se a O Novo Mundo, na linha dos trabalhos mais introspectivos do Bando, resgatando histórias e saberes afrobrasileiros.
Bença é um espetáculo denso, como diz o caderno é uma “homenagem ao tempo e aos mais velhos”. Possui um visual poderoso, é uma peça de imagens, onde a platéia é remetida a um passado não tão longínquo, para se  dar conta de como a modernidade pode ser prejudicial às relações humanas.
“Não pensem que quando vocês estão no palco representando, vocês estão sozinhos”, vaticina Makota Valdina através de um vídeo tape. E realmente não estamos sós, em Bença a atmosfera é repleta de seres imateriais, energia ancestral. O texto é denso e rico em informações auditivas , visuais e olfativas.

Makota Valdina Pinto

Senti-me extremamente incomodado ao ver minha imagem na tela, pois me deu a idéia de que eu também era um ancestral, que meu tempo sobre a terra tinha passado, me colocou em contato com minha finitude, com a minha transitoriedade, que efetivamente é algo que não pensamos. É um espetáculo complexo e belo, o texto de Márcio Meireles é uma celebração a ancestralidade, ao respeito e a sabedoria.
Essa sabedoria a que o espetáculo se refere é o conhecimento dos mais velhos. Conhecimento esse cada vez mais desprezado pela neurose urbana e do desenvolvimento tecnológico. “O tempo pede tempo ao tempo pra agir. E a gente às vezes, não entendendo o tempo, se sente atropelado. Mas se for manso com o tempo, convive com ele e chega onde deseja, né?”. Fala também através do vídeo Bule Bule, outro ator “ad hoc” desse lindo espetáculo.
Bença nos fala do respeito aos mais velhos, que é essencial nas diversas culturas vindas de África. Somos convidados a refletir a simplicidade de outrora das relações interpessoais e o sentido de se sentir abençoado pelos mais velhos através do simples pedido: bença. “Coisa que hoje está se perdendo. E que antigamente era até comum. Na vida comum você tinha isso nas famílias. As famílias negras sobretudo: tinha-se muito respeito, muita reverência com aqueles mais velhos”. Nos informa Makota Valdina em outro momento importante.

Cena de Bença

Quando o espetáculo se encerrou, simplesmente tive dificuldade de aplaudir. Não pela qualidade da peça ou do entendimento de que ali era o final da proposta (como aconteceu com algumas pessoas), mas sim pelo impacto que tais conteúdos me causaram, as reflexões que o espetáculo me conduziu.
Bença é pra ser assistida mais de uma vez, o palco é gigantesco e nele os lindos atores do Bando de Teatro cantam, dançam , tocam, filmam e representam com maestria. A coreografia de Zebrinha é contida e oportuna para o espetáculo, assim como o figurino clean de Zuarte Júnior.
Parabéns ao Bando de Teatro Olodum, que no seu aniversário de 20 anos, nos brinda com esse lindo presente.
Bença Bando!

*Bença é a forma que a palavra benção é dita no estado da Bahia.

3 comentários:

  1. repito também: Bença Bando!
    ro moraes

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  2. Bença Valter!!!
    Assistirei no RJ em dezembro...
    Bjo
    Rose

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  3. Nossa Valter, obrigada vc traduziu o meu sentimento diante de "Bença". Assisti na estréia, retornarei este fim de semana. Foi tão forte que fique paralisada por minhas reflexões. Asè sempre...p/ o Bando,p/vc, enfim p/ nós.

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