sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Exemplo na TV e na vida real

Todos sabemos que ainda há poucos programas de TV protagonizados por negros de forma não estereotipada
POR OSWALDO FAUSTINO

No Brasil, podemos ver algumas séries norte- americanas, principalmente cômicas, com famílias negras de classe média ou alta, a exemplo de Bill Cosby Show, Um maluco no pedaço, Eu, a patroa e as crianças, Todo mundo odeia o Cris, As Visões da Raven, Cory na Casa Branca e Kenan & Kel, entre outras. Mas não sei o efeito dessas séries sobre a construção da identidade e na autoestima dos telespectadores afro-brasileiros.
Na minha adolescência, porém, nos anos 60 e início dos 70, a TV Record – a mais importante emissora da época – exibiu Julia, um sitcom sobre uma enfermeira negra e viúva (o marido morreu no Vietnã), que lutava para criar seu filho pequenino. Julia tinha dignidade, elegância e não era servil. Naqueles anos de efervescência das lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos, a série, produzida entre 1968 e 1971, teve grande aceitação tanto em seu país de origem quanto em todos os lugares em que foi exibida. Mostrava uma possibilidade de convívio inter-racial harmônico, sem esconder as dificuldades de uma chefe de família negra, coisa bastante comum na realidade brasileira.


Diahann Carrol e Marc Copage, astros da sitcom Julia, exibida nos anos 60

A personagem Julia Baker era interpretada por Diahann Carroll, e o filho Corey, pelo ator mirim Marc Copage, com poucas aparições posteriores no cinema e na TV. Ao contrário dele, Diahann, que também é cantora e lançou 12 discos (entre eles, a ópera Porgy and Bess, de George Gershwin) figura entre as grandes estrelas norte-americanas de todos os tempos. Foi a primeira atriz negra a ganhar, em 1962, o Prêmio Tony (o Oscar do teatro), pelo musical No Strings (algo como “amizade colorida”, um relacionamento íntimo, sem compromisso). Faturou também um Globo de Ouro, por Julia, em 1968, e teve várias indicações ao Oscar e ao Emmy.
Diahann Carroll foi uma das homenageadas por Halle Berry ao receber o Oscar de melhor atriz, em 2002, por A Última Ceia. Hoje, com 76 anos, Carrol é ativista da campanha contra o câncer de mama. Ela própria sobrevivente da doença, convidou uma equipe de filmagem para documentar em seu quarto de hospital todo o seu tratamento. As imagens se constituíram num programa especial, exibido em rede nacional nos EUA. Se Julia era exemplo de luta da mulher negra, sua intérprete se tornou um símbolo para todas as mulheres do mundo.



"NAQUELES ANOS DE EFERVESCÊNCIA DAS LUTAS PELOS DIREITOS CIVIS NOS ESTADOS UNIDOS, A SÉRIE, PRODUZIDA ENTRE 1968 E 1971, MOSTRAVA UMA POSSIBILIDADE DE CONVÍVIO INTER-RACIAL HARMÔNICO, SEM ESCONDER AS DIFICULDADES DE UMA CHEFE DE FAMÍLIA NEGRA, COISA BASTANTE COMUM NA REALIDADE BRASILEIRA"

Eu, a patroa e as crianças. Negros bem sucedidos são comuns na TV
 

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