segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Jucy Silva, a nova diretora executiva do Instituto Cultural Steve Biko

No último dia 08 de janeiro, aconteceu, em Salvador, a assembléia de nomeação da educadora Jucy Silva  para o cargo de diretora executiva do Instituto Cultural Steve Biko em substituição ao doutor em economia, Silvio Humberto, que passa a assumir a diretoria de comunicação. Nessa entrevista exclusiva para o CORREIO NAGÔ,  Jucy revela os desafios que terá na sua gestão à frente de uma das mais importantes organizações do movimento negro brasileiro, pioneira na criação de cursos pré-vestibulares para estudantes negros e negras.


Natural de Salvador e graduada em Letras pela Universidade Católica, Jucy é também professora da rede  municipal e estadual de ensino da Bahia. Sendo a segunda mulher a atuar na direção da organização, a educadora tem sob sua responsabilidade ampliar a dimensão de gênero da Biko e, para isso, está criando  um plano de curto, médio e longo prazo para desenvolver políticas com foco em gênero, além de criar um programa de incentivo à carreira política para jovens negras.

Jucy Silva, que entrou para o Instituto Steve Biko em 1993, acredita que a política de cotas nas universidades públicas, além de possibilitar uma concorrência mais justa ao levar em consideração a trajetória diferenciada dos jovens negros, oportuniza um rompimento do ciclo da pobreza.


Correio Nagô - Conte-nos um pouco mais sobre o Instituto Steve Biko. Quais são os objetivos da organização e suas principais realizações?

Jucy - O Instituto Cultural Steve Biko, ao longo dos seus dezoito anos, tem avançado na promoção da igualdade racial. De fato, nós temos influenciado políticas públicas, a exemplo da adoção do sistema de cotas na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e contribuímos bastante para a formação de ativistas na luta anti-racista a partir da preparação de centenas de jovens negros que ingressaram nas universidades baianas e que passaram anteriormente pela formação política do nosso curso de Cidadania e Consciência Negra que é ministrado em todos os projetos educacionais do Instituto.
Como principal objetivo a ser alcançado pelo Instituto, temos a constituição de nossa própria Instituição de ensino superior, a Faculdade Steve Biko.


Correio Nagô - Quais são os novos desafios da Biko nessa nova gestão? Quais serão os principais projetos?

Jucy - Os maiores desafios são: a sede própria, a sustentabilidade, publicação da história do Instituto Cultural Steve Biko e suas tecnologias sociais, a formação de quadros e consolidação da profissionalização por meio da atuação dos núcleos de trabalho.

Correio Nagô - Como você se sente ao assumir a direção de uma das mais importantes organizações negras do Brasil, pioneira no segmento curso pré-vestibular para negros/as?

Jucy - Segundo o pensamento do Bantu Steve Biko, “ou você está vivo e orgulhoso ou você está morto. E quando está morto não se incomoda com nada.” Posso afirmar que me sinto viva, orgulhosa e com a responsabilidade de dar continuidade ao crescimento do Instituto, trabalhando em prol da realização da missão, agindo com respeito, solidariedade e determinação para atingir a visão institucional.

Para chegar à diretoria executiva, construí uma trajetória de onze anos com muito compromisso, dedicação e aprendizado. O Instituto proporcionou o meu fortalecimento profissional e também resgatou a minha autoestima como mulher negra. A Biko é um espaço de transformação de pessoas, onde aprendemos, crescemos e ajudamos os outros e outras a crescerem e se sentirem fortalecidos para lutar por seus objetivos. Quando Cheguei à Biko, diretores, professores e estudantes confiaram no meu trabalho por isso cheguei até aqui.


Correio Nagô - Você é a segunda mulher que assume a direção da Biko. Como as políticas de gênero serão aplicadas dentro da sua gestão?

Jucy -  É verdade. A primeira diretora executiva do Instituto foi Maria Durvalina Cerqueira Santos, por quem eu tenho um carinho muito especial, é a minha primeira grande referência feminina dentro da Biko, pois a conheci na aula inaugural do pré-vestibular em 1993. Quando entrei na Biko para lecionar, fui recebida por ela, que, na época (1999), era diretora pedagógica.

Nas aulas de Cidadania e Consciência Negra, discutimos relações de gênero, porém estou elaborando um plano de ação a curto, médio e longo prazo, para ampliar as políticas de igualdade de gênero. A Biko tem uma grandiosa força feminina que a cada dia contribui mais para o desenvolvimento do Instituto. A primeira ação será um evento no mês de março, seguido de intercâmbio e roda de diálogos com convidadas de áreas diferentes e membros do Instituto, além de um projeto específico de combate à violência contra adolescentes negras.

Considerando que, na última reunião do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ficou em baixa colocação no que se refere às mulheres na política, e quando olhamos para a mulher negra a situação é mais difícil, tenho como meta fomentar um programa de incentivo à carreira política para jovens negras. Acredito que um projeto desta natureza pode servir de exemplo e ajudar a diminuir esta disparidade na política brasileira.

Correio Nagô - Como você avalia esse momento de ascensão de mulheres ao poder, como no caso da presidenta Dilma e suas ministras?

Jucy - De forma positiva e incentivadora, espero um governo de mudanças significativas, com projetos inovadores que contribuam principalmente para dirimir todas as formas de desigualdades existentes no Brasil, dando base para que, em um futuro próximo, possamos aumentar também a representatividade das mulheres negras nos poderes executivo, legislativo e judiciário.


Correio Nagô - Qual a sua avaliação sobre as políticas de ação afirmativas nas universidades? Como a Biko tem ajudado nessa transformação?

Jucy -  As políticas de ações afirmativas são importantes instrumentos para a promoção da reparação socioeconômica da população negra. Mais especificamente a política de cotas nas universidades públicas além de possibilitar uma concorrência mais justa ao levar em consideração a trajetória diferenciada dos jovens negros, ela de fato oportuniza um rompimento do ciclo da pobreza, nesse segmento dado a maior qualificação que os jovens negros passam a ter após a conclusão dos cursos. A iniciativa pioneira do nosso pré-vestibular voltado para estudantes negros contribuiu para a mobilização da sociedade, em especial mobilizando a militância negra para a luta pelo acesso ao ensino superior.

No que se refere às políticas públicas, acrescento que nossas ações políticas em conjunto com outras organizações negras foram decisivas para o estabelecimento das cotas na UFBA e foi seminal para a criação de projetos como Universidade Para Todos do governo do Estado e o Programa Diversidade na Universidade, destinados ao acesso de grupos excluídos ao ensino superior. De fato, o Instituto Cultural Steve Biko e as demais entidades do movimento negro tiveram uma fundamental participação para que o debate sobre a democratização do acesso ao ensino superior fosse colocado na agenda nacional.


Correio Nagô -  Como o Instituto Steve Biko vem se preparando para construir a primeira faculdade negra da Bahia? Como será essa instituição?

Jucy - Através da qualificação do corpo técnico do Instituto; a promoção de importantes diálogos  com universidades afroamericanas, bem como com intelectuais afrobrasileiros e da diáspora. Estamos também reavaliando nossos processos  administrativos e educacionais, melhorando nossa comunicação institucional,  fortalecendo o núcleo de captação de recursos e estamos bem próximos da aquisição da nossa sede própria que deverá abrigar a estrutura inicial da faculdade.

Acreditamos que com a criação da Faculdade Steve Biko poderemos dar uma grande contribuição para mudar a cara do ensino superior no Brasil, principalmente no que se refere aos conteúdos e a forma de interação com as comunidades. Nossa faculdade terá como principal diferencial a contemplação dos saberes legados pelo povo africano e sua diáspora, bem como a forte atenção às demandas das comunidades excluídas.


Correio Nagô- Deixe um recado para a comunidade do Correio Nagô.

Jucy - Quero desejar novos e abertos caminhos e que todos e todas estejam cada vez mais convencidos de que é essencial a nossa consciência e atitude em prol da Igualdade racial e de gênero.

Entrevista: Paulo Rogério
Edição: Keila Costa

Jucy Silva e Valter da Mata

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Consciência Negra

"A Consciência Negra é, em essência, a percepção pelo homem negro da necessidade de juntar forças com seus irmãos em torno da causa de sua atuação – a negritude de sua pele – e de agir como um grupo, a fim de se libertarem das correntes que os prendem em uma servidão perpétua. Procura provar que é mentira considerar o negro uma aberração do "normal", que é ser branco. É a manifestação de uma nova percepção de que, ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros estão insultando a inteligência de quem os criou negros. Portanto, a Consciência Negra toma conhecimento de que o plano de Deus deliberadamente criou o negro, negro. Procura infundir na comunidade negra um novo orgulho de si mesma, de seus esforços, seus sistemas de valores, sua cultura, religião e maneira de ver a vida." (Steve Biko)




quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Racismo no Brasil pela voz do embaixador de Cabo Verde

Por: Danniel Pereira

Fonte: http://pambazuka.org/pt/category/comment/69773


Neste artigo, o embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, conta a discriminação que a filha Débora passa no colégio de Brasília. O caso foi usado como exemplo num artigo publicado no Correio Braziliense a propósito do lançamento da Campanha Nacional sobre o Impacto do Racismo na Infância e na Adolescência no Brasil. Deixemos-lhe o texto aqui, na íntegra.

O embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, conta a discriminação que a filha Débora passa no colégio de Brasília. O caso foi usado como exemplo num artigo publicado no Correio Braziliense a propósito do lançamento da Campanha Nacional sobre o Impacto do Racismo na Infância e na Adolescência no Brasil. Deixemos-lhe o texto aqui, na íntegra.
O embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, descreve o espanto que sentiu quando soube da discriminação que sua filha, Débora, sofre na escola. Duplo preconceito, por ser negra e por ser portuguesa. A menina também revela o que passa e o que sente no dia a dia num colégio de elite de Brasília.

É bem cedo que nascem o racista e a vítima do racismo. É na infância que a criança aprende com os adultos ou com outras crianças a discriminar o ser humano pela cor da pele. Para tentar ajudar a frear o surgimento de novas gerações de brasileiros hostis a brasileiros da raça negra, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lança, na próxima segunda-feira, em Brasília, a Campanha Nacional sobre o Impacto do Racismo na Infância e na Adolescência.
“As estatísticas apontam disparidades raciais que atingem crianças negras e indígenas que estão um pouco à margem do acesso às políticas públicas”, diz Helena Oliveira, responsável pelo programa de proteção à infância do Unicef. “A discriminação racial tem gerado graves efeitos na vida dessas crianças.” Especialmente, informa Helena, em meninos e meninas que vivem na periferia dos grandes centros urbanos, Brasília incluída, na Região Amazônica e no semiárido nordestino.
Os números são retumbantes: são 31 milhões de brasileirinhos negros e 150 mil de brasileirinhos indígenas. Desse total, 26 milhões são pobres e, entre esses, 17 milhões são negros. Há mais números impactantes: das 530 mil crianças de 7 a 14 anos fora da escola, 330 são negras.

O Índice de Homicídio na Adolescência, estudo do Unicef, revela que há 2,6 mais chances de um jovem negro ser assassinado do que um branco. Dados que sustentaram a necessidade dessa campanha que pretende “mobilizar toda a sociedade para alertá-la sobre o impacto do racismo na infância”, afirma Helena Oliveira.

A Unicef quer sensibilizar formadores de opinião, formuladores de políticas públicas, gestores privados, famílias, comunidades, escolas, universidades. “A responsabilidade dos adultos é muito grande, não podemos permitir que o racismo continue a se reproduzir no país”, alerta Helena. A campanha vai ser reproduzida em várias mídias, em folderes, camisetas e vai sugerir “10 maneiras de contribuir para uma infância sem racismo”.

O embaixador de Cabo Verde, Daniel Pereira, conta abaixo o espanto que sentiu quando soube da discriminação que sua filha, Débora, sofre na escola. Duplo preconceito, por ser negra e por ser portuguesa. A menina também revela o que passa e o que sente no dia a dia num colégio de elite de Brasília.

“O mundo de hoje é mestiço” Daniel Pereira, embaixador de Cabo Verde. Tem 59 anos, é historiador e ensaísta, escreveu diversos livros sobre a história de seu país. Casado, três filhas. Mora no Lago Sul.
Eu, como cabo-verdiano, não sei lidar com o racismo, porque em Cabo Verde nós ultrapassamos isso há muito tempo. Quando sou confrontado, no Brasil, com essa situação, me sinto um pouco constrangido. Nunca havia me deparado com essa situação aqui, mas minha filha mais nova já viveu essa realidade na escola. Ela tem 15 anos. Nós já vivemos na Holanda, em Angola, em Cabo Verde, em Portugal e ela nunca se deparou com o problema do racismo. Foi preciso chegar ao Brasil, paradoxalmente um país mestiço, para que isso acontecesse.

Ela estuda numa escola de elite e no dia a dia enfrenta situações as mais bizarras: anedotas, brincadeiras de mau gosto, coisas sem pé nem cabeça. Para ela, é constrangedor.

Quando ela me contou o que estava acontecendo, sugeri: ‘Diz aos teus colegas que nem os negros nem os portugueses deixaram descendentes aqui. Eles eram povos estéreis.’ Depois disso, as coisas abrandaram um pouco, mas volta e meia lá vem a questão novamente. Como a maior parte dos brasileiros é descendente de portugueses e africanos, todos têm uma família de portugueses ou uma família de africanos mesmo que não exista uma marca exterior dessa ascendência. É um pouco fora de propósito o racismo no Brasil. E o preconceito é também contra o português. Minha filha é filha de portuguesa, e é cabo-verdiana. Portanto, é africana também. Então ela ouve anedotas sobre portugueses e africanos. As pessoas não percebem que agindo assim estão satirizando a própria cara, estão matando a própria autoestima. Há qualquer coisa que não está funcionando bem. Muito a refletir, a ultrapassar.

Devo dizer que me sinto em casa no Brasil. É um paradoxo. Sou estrangeiro, estou fora do meu país e ao mesmo tempo me sinto em casa. A cultura que me rodeia é a minha cultura, a língua que eu falo é a minha língua, com mais ou menos sotaque.
Existe uma empatia de fundo histórico entre Cabo Verde e o Brasil. Muitos não sabem que aquilo que aconteceu no Brasil a partir de 1500 foi antecipado em Cabo Verde 40 anos. Cabo Verde foi descoberto em 1460. As experiências que foram feitas lá foram transplantadas para o Brasil.

Do ponto de vista político, com as capitanias hereditárias, por exemplo. A cana de açúcar foi introduzida no Brasil a partir de Cabo Verde, e não veio só a cana, vieram os técnicos e veio a tecnologia.

Muitos escravos que vieram de Cabo Verde para o Brasil vieram para trabalhar no canavial. A mestiçagem foi iniciada em Cabo Verde e foi transplantada para aqui. O coco, as vacas, os burros, o inhame foram introduzidos no Brasil a partir de Cabo Verde. É um conjunto de elementos que fizeram a base da matriz brasileira, que veio de Cabo Verde, da Guiné, do Senegal.
A relação histórica entre o Brasil e Cabo Verde é muito antiga. Costumo dizer que antes de ser já era, porque quando Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil passou primeiro por Cabo Verde. Porque Cabo Verde era um ponto de passagem obrigatória da navegação. Todos os grandes navegadores do mundo passaram por Cabo Verde. Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Cristovão Colombo, tamanha a importância que Cabo Verde teve no contexto do Atlântico, pelo menos até o século 17. Enquanto a navegação foi feita com a necessidade de escalas, Cabo Verde pertencia a todos os mapas. Quando a navegação pôde ser feita de costa a costa, Cabo Verde desapareceu do mapa.

A minha função aqui no Brasil, desde que cheguei, foi fundamentalmente dizer aos brasileiros: A África que vocês imaginam não existe. Não são só macacos, não são só leões, não é só safári. Estamos a falar de uma África em desenvolvimento. Na África existem quatro Nobel de Literatura. Não vejam a África como a selva. Esta África está em vias de desaparecer.
O mundo de hoje é mestiço e tende cada vez mais para essa mistura. É uma mistura tão grande que não vale a pena as pessoas ficarem se preocupando com o fato de ser branco ou negro. Existe a raça humana.

Sabe por que os cabo-verdianos não têm problema com a cor da pele? Um amigo que já morreu dizia que o cabo-verdiano era rico sem dinheiro e branco sem cor. Porque nós estávamos numa sociedade escravocrata formada por gente que durante muito tempo teve algum dinheiro. Depois que Cabo Verde empobreceu, o cabo-verdiano ficou com mania de rico. Então, rico sem dinheiro e branco sem cor por quê? Porque ele não aceita que você o defina pela cor da pele. Por uma questão de dignidade humana. As pessoas têm um nome e devem ser julgadas pelo seu nome, pela sua maneira de ser e não pelo aspecto externo de sua coloração cutânea.

Em Cabo Verde, como a mistura é grande, as pessoas são muito pobres e a pobreza horizontaliza — enquanto a riqueza verticaliza — as pessoas estão muito próximas umas das outras. É uma mistura tão grande que na mesma família você pode ter um irmão branco e pode ter outro irmão negro. Não tem como ser racista. Como é que você vai ser racista com seu próprio irmão?
Débora Pereira

Nasci na Holanda, mas sou cabo-verdiana e portuguesa. Estudo em escola de gente com bom nível econômico. No Brasil, tem um problema. Tem racismo, pelo menos na minha escola tem bastante. Os alunos falam que os negros são burros. A minha escola é muito boa, aprendo bastante e sei que ela vai me ajudar no meu futuro com certeza. Só que tem esse problema, e eu não sei se elas falam por mal, mas parece que sim. Me sinto ofendida porque meu pai não é branco. É estranho ter racismo no Brasil. Porque aqui é tudo misturado. Ser racista é xingar a si mesmo. Parece que o brasileiro não aceita que tem descendência negra, simplesmente não aceita. Já falei que não gosto que falem de negros, mas eles falam: ‘Ah, eu estou brincando’, mas sei que não estão.Eu sou umas das alunas de pele mais escura na minha sala, mas lá não tem ninguém muito branco, a não ser uma americana. O resto é tudo brasileiro.

E tem também o preconceito contra o português. O povo brasileiro tem algum problema com os portugueses. Eles acham que português é burro. E eles não falam só de mim, é do negro em geral. E eu sempre digo: ‘Para de falar isso’.Toda a família do meu pai tem ascendência africana. Antes eu ficava bem aborrecida, de berrar com a pessoa, mas agora só falo ‘não diz isso que eu não gosto’.

Adoro os brasileiros. Os portugueses são bem fechados, são mal-humorados e os brasileiros parecem ser sempre joviais, estão sempre sorrindo. Nos Estados Unidos, sou considerada negra. Então sou negra, tanto faz. Não tem problema. Mas eu não gostaria de definir a minha cor, porque minha mãe é branca e meu pai é negro. Então, eu sou o quê? A identidade não precisa de definição de cor. Já foi provado cientificamente que não existe raça. Tanto faz a cor da pele para mim, se a pessoa for azul, tudo bem. Não tenho cor.

Eu adoro as pessoas da minha escola. Tirando esse pequeno problema, o resto tudo bem.

*Danniel Pereira é embaixador de Cabo Verde no Brasil